sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

CAMINHA (Portugal)

“Encravada entre o rio Minho, o rio Coura e a montanha e situada à vista do oceano, Caminha tem uma situação geográfica priveligiada em termos de variedade de belezas naturais”. Esta frase, da autoria de João J.R.T. Azevedo, é como que um belo postal ilustrado da pituresca Caminha, uma vila situada no extremo norte de Portugal “senhora” de um charme natural de difícil resistência... e eu que o diga. Recordo por isso o Verão de 2002, altura em que travei conhecimento com esta vila minhota plantada no Distrito de Viana do Castelo, e de lá para cá não mais a perdi de vista, pois sempre que a oportunidade surge impõe-se uma visita. É de facto um dos meus locais favoritos em terras lusitanas, não só pela sua beleza natural, como também pelo seu património histórico, gastronomia e claro está pela simpatia das suas gentes. O meu monumento caminhense preferido: a Torre do relógio

“Desenhada” na foz do rio Minho Caminha tem tido graças ao seu posicionamento geográfico um forte crescimento ao nível do turismo, especialmente no Verão, onde milhares de turistas procuram a tranquilidade das suas praias ou a aventura na Serra d' Arga, um enorme manto verde que como que protege a vila. O Chafariz do Terreiro

No primeiro aspecto são populares os areais de Moledo e Vila Praia de Âncora, duas das 20 freguesias do Concelho de Caminha, sem esquecer a praia do Camarido bem posicionada no local onde o Minho (rio) beija o Atlântico (oceano). Aliás, o Camarido não é só um local para os amantes dos banhos de sol, já que aqueles que preferem a sombra das árvores também aqui podem usufruir de um tempo bem passado, visto a praia ser envolvida pelo imenso pinhal do Camarido. E depois de um belo dia de praia ou de campo nada melhor que uma noite bem passada no centro da vila, começando o nosso serão na movimentada (sobretudo durante a época balnear) Praça Conselheiro Silva Torres, onde nos podemos deliciar com a saborosa e inigualável gastronomia minhota num dos muitos restaurantes ali instalados, e terminando já noite alta num dos bares da sempre animada e jovem Rua Direita, uma simpática artéria medieval. A jovem e animada Rua Direita

Pela sua beleza histórica a zona central de Caminha é a que mais me entusiasma, muito em particular aquele que eu classifico como o seu monumento de maior beleza e simbolismo: a Torre do Relógio. Trata-se de uma torre de menagem datada do século XIII pertencente ao já desaparecido Castelo Medieval de Caminha, sendo esta a única torre intacta que resta do referido castelo. Não posso igualmente deixar de frisar o belissímo Chafariz do Terreiro “plantado” em plena Praça Conselheiro Silva Torres, um monumento datado do século XVI que apresenta uma arquitectura de tipologia renascentista e que hoje em dia assume um forte papel decorativo da referida praça. Este é aliás um espaço que respira história, sendo de realçar ainda a Casa dos Pita, uma espécie de palacete com dois pisos datado do século XVII. Caminha vista do meio do Minho (rio), destacando-se no meio do povoado a imponente igreja matriz

Um pouco mais distante da Praça Conselheiro Silva Torres ergue-se a imponente Igreja Matriz de Caminha, que com uma tipologia gótica, manuelina, renascentista e barroca é um ponto de visita obrigatório de quem visita a vila. De sembelante um pouco mais triste corre ao lado de Caminha o rio Coura, posicionado num local mais recatado e escondido da vila, em meu entender, mas que mesmo assim não é esquecido pelos atletas do Sporting Clube Caminhense, um dos maiores emblemas do remo nacional, que ali desenvolvem a sua actividade.O velhinho Santa Rita de Cássia que faz a travessia entre Portugal e Espanha

Com o papel de actor principal está claro o rio Minho, uma fronteira natural entre Portugal e Espanha, e aqui reside quanto a mim um dos atractivos mais curiosos da vila, o facto de podermos fazer a travessia de um país para o outro a bordo do popular e velhinho “ferry-boat” baptizado de Santa Rita de Cássia, que nos embala nas tranquilas águas do Minho desde Caminha até La Guardia, a simpática cidade espanhola situado do outro lado da margem. Não menos simpáticos são os passeios pela marginal do Minho ao pôr-do-sol, contemplando o “descanso” dos pequenos barcos dos pescadores locais no azul leito do principal rio desta ímpar vila minhota.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

LA VALLETTA (Malta)

Malta, a heróica ilha que ao longo de séculos viu a sua liberdade ser aprisionada por diversos impérios sequiosos de dominar o Mundo. Fenícios, gregos, romanos, franceses, ou britânicos, todos eles tomaram – alguns através da “lei das armas” - o pequeno arquipélago plantado no imenso “jardim” do Mediterrâneo. O porquê desta obsessão comum? Malta nasceu com um dom: a sua estratégica posição geográfica – situada entre o sul da Europa e o norte de África, em termos mais precisos a 93 km do sul da Sicília (Itália) e a 288 km do nordeste da Tunísia -, que fez destas terras uma importante ponte – comercial, e não só – entre os continentes europeu e africano. Um aspecto de La Valletta vista do miradouro de Cospicua

Livre desde 1974 Malta é hoje um filho – em fase de crescimento – da Europa, fazendo parte da União Europeia desde 2004, apresentando traços de uma personalidade muito particular. Uma personalidade multi-cultural, fruto, claro está, das várias civilizações que colonizaram o país ao longo de séculos. Na cultura, na língua, na arquitectura, nas tradições populares, nas características das suas gentes é por demais evidente a existência de uma mescla das diferentes culturas legadas pelos antigos colonizadores que fazem de Malta um país de grande beleza (sob diversos aspectos).O "turista" em plena Rua da República

Há pouco mais de um ano atrás e numa altura em que o Verão deixava já um rasto de saudade nos caminhos do recém-chegado Outono tive a oportunidade – e felicidade também – de visitar Malta. Fi-lo – há que dizê-lo – num dos capítulos mais belos da minha vida: na minha lua-de-mel. Foram muitos os que na altura aparentaram espanto e curiosidade em torno de tal escolha para um destino a dois... ainda para mais recém-casados. O mais certo seria um qualquer resort tropical nas Maldivas, no Brasil, ou na parte mais central das Américas. Mas não, foi Malta... simplesmente porque foi. Ao final da manhã do dia 20 de Setembro de 2009 eu e a minha – recente – esposa pisámos solo maltês pela primeira vez nas nossas vidas. À nossa espera o transporte que nos iria levar até Sliema, localidade onde ficámos instalados. Chegado à viatura pude então visionar o primeiro de muitos costumes deixados pelos antigos colonizadores, neste caso pelos britânicos... o facto de à semelhança do que acontece na Grã-Bretanha ali se conduzir pela esquerda. Sobre Sliema e as primeiras impressões sobre aquilo que os meus olhos viram nas horas iniciais de estadia na ilha falarei noutros capítulos deste meu diário virtual, pois daqui para a frente irei percorrer os caminhos da capital maltesa: La Valletta. Conheci La Valletta a 21 de Setembro, um dia após ter chegado ao país que é cercado pelo Mediterrâneo, e a minha primeira impressão foi de espanto! Isto porque ao cruzar a principal porta de entrada da cidade, denominada de “City Gate”, fui-me apercebendo que a cidade se encontrava praticamente deserta! Como era possível uma capital europeia estar quase despovoada numa segunda-feira ao início da tarde? Escavando o dilema percebi então que assim era pelo facto de naquele dia ser feriado nacional, comemorava-se mais um aniversário da Independência do país. Percebi também que os malteses são um povo que gosta de aproveitar os seus dias livres no conforto das suas casas, a julgar pelo quase deserto humano em que La Valletta estava transformada, não se vislumbrando mais do que, aqui e além, um ou outro turista. Um cenário que no entanto não impediu a minha curiosidade de pôr pés a caminho e deambular por diversas artérias da cidade. A Rua da República

A “Republic Street” (Rua da República) assume contornos de artéria principal da capital maltesa, sendo a maior parte da sua extensão de cariz pedonal. É não só a rua mais movimentada da cidade – mesmo nos dias de descanso – como também a mais larga. Iniciada no “City Gate” a rua prolonga-se até ao Forte de San Elmo, sendo que na sua extensão encontram-se não só a maior parte dos espaços comerciais de La Valletta como igualmente diversos monumentos. São os casos das igrejas de S. Francisco e de Santa Bárbara, do Palácio da Justiça, ou da Biblioteca Nacional de Malta, este último edifício de grande beleza situado na “Republic Square” (Praça da República).Um plano da Praça da República com Biblioteca Nacional de Malta em pano de fundo

Esta última praça é também conhecida como a “Queen Square” (Praça da Rainha) pelo facto de ter sido construida durante o tempo da Rainha Victoria, sendo que defronte da entrada principal da Biblioteca Nacional pode ser vista a majestosa estátua da citada monarca. Uma nota de rodepé para frisar que nesta praça existe um dos mais emblemáticos restaurantes de La Valletta, o Cordina Café, um local onde se podem saborear diversas especialidades gastronómicas maltesas. Devo confessar que neste local, não no Cordina Café, mas noutro restaurante vizinho, comi a pior pizza da minha vida... nem tudo pode ser perfeito. Mas sobre a gastronomia maltesa falarei numa próxima “visita virtual” à ilha.O Palácio da Justiça

Deixando “Republic Street” vaguei seguidamente por outros pontos circundantes, pudendo aperceber-me que em La Valletta as ruas são bastante estreitas e inclinadas, contrariamente à artéria central, sendo povoadas de pequenos e gastos edifícios habitacionais, na sua maioria, portadores das suas peculiares varandas, uma espécie de pequena marquise de madeira, qua aliás se encontram “agregadas” a quase todos os edifícios habitacionais de Malta. Uma das muitas pequenas e estreitas artérias da cidade com vista para o Porto de Harbour

“Aqui a acolá” encontro algumas praças, pequenas mas de grande beleza, como aquela onde está erguida a “St. John's Cathedral” (Catedral de S. João) construida em 1578 pela mão dos cavaleiros da Ordem de S. João com base num projecto do arquitecto maltês Geralomo Cassar e financiado pelo Grão Mestre Jean de la Cassiére. Este tal como outros edifícios monumentais de La Valletta assentam num estilo barroco. Aliás, para quem é adepto de edifícios de âmbito religioso (igrejas sobretudo) pode deliciar-se com o vasto e rico património da capital maltesa.Catedral de S. João

Neste aspecto percebe-se claramente a influência dos cavaleiros da Ordem de S. João que há cinco séculos atrás se refugiaram na ilha depois de expulsos de Rodes pelos turcos otomanos. Continuando numa toada histórica dizer que a guerra entre os cavaleiros e os turcos manteve-se durante algum tempo, com estes últimos a não dar descanso aos pobres cavaleiros de S. João que mesmo no seu novo cantinho (Malta) eram atacados pelos insatisfeitos turcos. Escreve a História que em 1565 uma colossal frota turca ataca Malta no sentido de dar uma vez mais ordem de expulsão aos cavaleiros de S. João Baptista. Uma imagem da Praça de S. João

O cerco da ilha foi feito em Maio e só em Setembro é que os turcos, vendo que desta feita não levariam a melhor sobre os católicos, baixariam as armas e abandonavam Malta. Posteriormente a esta guerra os cavaleiros viriam a espalhar-se um pouco por toda a ilha e muito em particular na zona onde iria nascer La Valletta. Um local que com o passar dos anos se foi desenvolvendo, tendo tido a necessidade de ser edificada uma fortaleza envolvendo o povoado. La Valletta é por isso uma cidade erguida dentro de um forte plantado de fronte para o azul Mediterrâneo. O Valletta Waterpolo Stadium

Contornando as muralhas do forte pude então comprovar a indescritível beleza circundante de La Valletta: de um lado o visionamento do maravilhoso “quadro” das Três Cidades (Vittoriosa, Senglea, e Cospicua) e do outro uma vista não menos atraente da “Isla Manuel” (Ilha de Manuel) e da localidade de Gzira. Deste último “miradouro”, por assim dizer, não pude ficar indiferente ao facto de ter encontrado o “Valletta Waterpolo Stadium”, como o próprio nome indica um pequeno recinto com bancadas destinado à prática de pólo aquático, um dos desportos mais populares da ilha, e no que me toca uma das modalidades que mais admiro. Depois de ouvir falar de tantas histórias alusivas a este recinto desportivo (situado bem ao lado da imponente Igreja de Nossa Senhora do Monte Carmelo), “ancorado” a La Valletta em pleno Mar Mediterrâneo, onde tantos e tantos célebres jogos de pólo aquático ocorreram, não pude esconder uma certa felicidade de poder estar ali a visioná-lo “in loco”. Enfim, não fujo à regra, sou um ferrenho amante do desporto, e como tal estas pequenas coisas insignificantes para a maior parte dos turistas para mim tem um relevo maior.A Fonte de Triton, situada defronte da principal porta da Cidade ("City Gate")

A La Valletta voltei na companhia da minha querida esposa na 6ª feira seguinte, desta feita para gozar os nossos últimos momentos de lua-de-mel na ilha, bem como para poder gastar alguns euros numa ou noutra recordação. Não sem antes perdermos – no sentido positivo, claro está – algum tempo com uma agradável visita aos Jardins Altos da Barraca, onde pudemos contemplar pela última vez a beleza das Três Cidades bem como assistir ao entra e sai constante de cruzeiros no “Grande Harbour” (principal porto de La Valletta).O peculiar "Maltease Bus", principal meio de transporte da ilha

Posto isto regressámos ao “City Gate” para nos despedir-mos definitivamente da cidade, sendo que no exterior nos esperava o peculiar e principal meio de transporte maltês, o “Maltease Bus”. Tratam-se de velhos e coloridos autocarros, de impensável circulação num país do chamado “1º Mundo”, que pelo seu carisma de autêntica relíquia se assumem como um dos mais curiosos atractivos da ilha. Transformado num autêntico museu de velhos autocarros, assim parecia, mas na verdade trata-se da central de autocarros de La Valletta (com ligação para toda ilha) a rotunda exterior da “City Gate” é emblezada por um imponente fontanário, a “Triton Foutain” (Fonte de Triton), que se apresenta como que um cartão de boas vindas a quem chega pela primeira vez à bela capital de Malta.